top of page

Os anjos navegam

A esperança vem pelas águas. Quem está no remoto ambiente da fronteira Norte do Brasil espera ansiosamente pela chegada dos suprimentos que vêm de Manaus (AM). Em uma instalação com vista privilegiada para a imensidão azul-escuro que é o Rio Negro, se localiza o Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia (Cecma). De lá, saem dos suprimentos essenciais para os Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), que têm poder de polícia em uma área de 150 quilômetros no extremo do país.

O trabalho logístico da unidade é árduo. Declaradamente apaixonado pelo posto, o comandante do Cecma, tenente-coronel Almeida, reconhece as dificuldades intrínsecas ao ambiente da Amazônia, dificilmente encontradas em outras regiões. “A última vez fomos para Estirão do Equador [comunidade no Amazonas] – foram 53 dias, com uma tripulação de dez homens. Quando chegaram aqui, eles tiveram cinco dias de dispensa e voltaram a trabalhar – com a escala normal, com manutenção, e já tinham que se preparar para a próxima lição”, relata.

O serviço do Cecma é complexo: Almeida explica que as ações são divididas com as bases logísticas, já que as grandes embarcações não chegam até a fronteira. “No caso do transporte logísticos, nós somos encarregados de levar todas as classes de suprimento: água, combustível, alimento, até móveis a gente leva para os pelotões de fronteira. Como nós não atingimos esses locais, que é a fronteira exata mesmo, a gente leva até as bases logísticas, que ficam em Tefé, Porto Velho e São Gabriel de Cachoeira.”

A Amazônia está presente em nove países: o Brasil possui a maior fatia, com 5,5 milhões de km², tamanho em que cabem quase duas Argentinas. Neste espaço, os rios são as ruas – e é neles que o 2º sargento Camarão se sente em casa. O homem que nasceu às margens do Rio Amazonas, em uma comunidade chamada Corocoró, a 500 quilômetros náuticos de Manaus, hoje é instrutor na formação de navegadores fluviais. Ele sabe de cor as quatro rotas utilizadas para navegação na Amazônia: “Fazemos a nossa atividade de apoio logístico no Rio Negro, até São Gabriel da Cachoeira; no Rio Solimões, fizemos viagem até Tabatinga, mas dependendo da missão podemos navegar pelo rio Javari, que desagua no Solimões, na cidade de Benjamin Constant; fazemos a nossa navegação também no Rio Madeira, que dá acesso até Porto Velho e, por vezes, praticamos a navegação até Belém, pelo Amazonas.”

Exército Amazonas

A época da seca é o momento em que os sinais de alerta são ligados. Neste período, que ocorre entre o meio e o fim do ano, a navegação fica restrita e há tempestades que transformam a calmaria do rio em fúria – até onda aparece. Questionado se tem medo de estar à frente de embarcações nessas situações, o Camarões ri. “A gente sabe exatamente o que tem que fazer e tem que confiar no conhecimento que você tem e na técnica, sabendo que funciona. Medo, medo não. Mas receio...”, explica. Nativo da região, ele entende que o respeito às condições meteorológicas e à natureza é essencial na navegação amazônica.

O Cecma também dá apoio em ações especiais, como levar urnas eletrônicas para comunidades mais afastadas do centro urbano. O soldado Valente vivenciou de perto a experiência nas eleições de 2016. “É gratificante porque a gente estava levando a liberdade para cada um fazer o voto. A gente leva urnas para as pessoas terem a oportunidade de escolher quem vai comandar o país”, conta, a bordo de uma embarcação que levava o grupo vindo de Brasília para circular pelo Rio Negro até a ponte que leva o mesmo nome.

Camarão nasceu em uma comunidade ribeirinha do Amazonas. Ele entrou para o Exército e hoje é instrutor de navegação

O jovem ficou quatro dias navegando até chegar em Barreirinha, município do Amazonas – uma das regiões mais distantes que Valente já visitou. Com sotaque típico, ele se alegra ao dividir a experiência. “É um pouco agoniante e você só vê selva, mas é gostoso viajar. A gente vê os animais, vê o boto”. Os golfinhos dos rios são motivos de lenda no folclore brasileiro, na qual os animais se transformam em homens galanteadores e seduzem mulheres para engravidá-las em noites de lua cheia.

Valente diz que a viagem uma das oportunidades abertas pelo Exército. Ele relata que na organização conseguiu o primeiro emprego e teve abertura para continuar os estudos. Com o desejo de continuar na carreira militar, o soldado, hoje na comunicação social do Cecma, planeja entrar para a Escola de Sargentos das Armas (ESA).

Valente tem 23 anos e estuda para ingressar em uma escola especializada do Exército

Cecma

Centro de Embarcações do Comando Militar da Amazônia

bottom of page