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O combate na selva

Nadar, orientar, atirar, sobreviver e comandar: é isto que os militares devem dominar ao término do curso realizado no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus (AM). Os que se dispõem a passar pela formação enfrentam três etapas: sobrevivência, técnicas especiais e operações, todas voltadas para uma situação de vida em mata fechada. “Ele [o aluno] tem que estar bem fisicamente e cognitivamente. É preciso ter mais desligamento físico e emocional”, explica o subcomandante do CIGS, tenente-coronel Cleverson. De acordo com ele, o curso que prepara militares para serem combatentes na selva é disputadíssimo.

Em toda a Amazônia, estão distribuídas oito bases de instrução de guerra na selva – elas são braços do CIGS. Já foram formados na unidade, desde 1966, 6.063 militares brasileiros e 490 estrangeiros. Em 2015, cada aluno custou cerca de R$ 54 mil.

Uma das unidades de apoio do CIGS, a BI-4 (Base de Instrução) fica ilhada. São cerca de 15 minutos de barco da comunidade Puraquequara – às margens do Rio Negro, em Manaus  – até o local onde ficam alojados instrutores e estudantes do curso. Na época da cheia, a área nem parece ter praia: na beira, você anda muito próximo de uma profundidade expressiva da água.

 

Na BI-4, os membros do Exército aprendem, além de técnicas de combate, a sobreviver comendo alimentos vegetais da floresta. O ideal, segundo o instrutor, é cozinhar o que foi encontrado na região por 30 a 40 minutos (sempre trocando a água) antes de comer.

Eles comem açaí, banana típica da região, cupuaçu, entre outras frutas e vegetais. No cardápio selva, o tapuru é o que causa mais estranhamento. É uma espécie de larva que vive nos cocos. O bichinho é colocado na boca vivo e explode ao ser mastigado. Tem gosto de leite de coco, mas a textura é mais parecida com uma geleia.

Na Amazônia, os búfalos são grandes companheiros dos militares. O animal com pelagem tão escura quanto o céu à noite é treinado para ajudar no deslocamento de carga. O búfalo é um ótimo parceiro na selva: consegue carregar de 80% a 100% do próprio peso, se adapta ao terreno, consegue nadar e é mais resistente às plantas venenosas encontradas na floresta, segundo o tenente Derick, da BI-4. Apesar de ser forte, o animal precisam de atenção: durante a caminhada, o búfalo necessita parar a cada 40 minutos para diminuir a temperatura do corpo.

Além de formar soldados preparados para combate na selva, o CIGS possui um zoológico. São 460 animais de 61 espécies. Todos foram resgatados e não tinham mais condições de viver na floresta. A onça preta é a estrela do lugar, mas fica acanhada com a visita e se esconde dentro de um buraco no grande espaço em que vive. De longe, dá para ver apenas os grandes olhos. Ela mora ao lado de uma onça pintada que perdeu a visão por conta dos maus-tratos.

A onça macho que hoje não enxerga mais era criada com alimentos preparados para humanos e isso a enfraqueceu ao longo da vida, explica a veterinária do CIGS. Ambas aparentam tranquilidade e a onça preta até sai do buraco depois de alguns minutos para chegar mais próximo dos curiosos.

 

O zoológico do CIGS é uma grande atração na capital do Amazonas: recebe, em média, 140 mil visitantes por ano. O próprio CIGS também abre as portas para a comunidade – recebeu 86 visitas em 2016 e, de janeiro até 17 de maio de 2017, foram 14. De todas as unidades do Exército Brasileiro, ela está em segundo lugar no ranking de visitas. Só no ano passado, recebeu 40% entre todas as realizadas pelo Brasil.

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